Arthur Cabral tinha entradas afirmativas quando era chamado, a possibilidade de chegar mais um avançado continuava a ser muito ventilada (como acabaria mesmo por acontecer, com o empréstimo de Andrea Belotti pelo Como), Vangelis Pavlidis continuava a ser aquilo que sempre foi: um 9 em busca do sentido de golo, que nunca deixava de ser aquilo que a equipa precisava mas que ainda precisava de ser mais para a equipa na altura do último toque. Essa era a linha que separava a contratação do grego que jogava no AZ entre o bom, o muito bom e o excelente, esse era o peso que colocava os 18 milhões de euros pagos aos neerlandeses entre o custo e o investimento. Na fase mais crítica da temporada, tudo mudou. Hoje, não é ele que se vê grego.
Foi na receção ao Barcelona que surgiu o clique, mesmo tendo em conta que a noite de glória em que fez um hat-trick aos catalães acabou com Raphinha a dar a vitória aos visitantes no último lance de descontos. Além de todos os registos que conseguiu em ano de estreia na Champions, a nível pessoal e do próprio clube, que nunca tinha encontrado um avançado capaz de marcar sete golos numa só edição da prova, foi a partir daí que houve uma viragem na influência do helénico no Benfica, com um total de 17 golos e mais quatro assistências em 19 encontros oficiais quando antes seguia com sete golos e cinco assistências em… 23 jogos. Os bons indicadores deixados ao longo da pré-temporada conheciam continuidade a partir de janeiro.
Agora, no segundo clássico desde que chegou a Portugal depois de ter ficado em branco na goleada na Luz por 4-1 na primeira volta, Pavlidis foi ao Dragão para fazer história e começou a escrevê-la ainda no primeiro minuto de jogo, respondendo da melhor forma com um desvio de primeira sem deixar cair a bola na área após cruzamento de Kerem Aktürkoglu para o 1-0 que demorou mais a ser validado pelo VAR do que… a ser marcado (e estava mais de meio metro em posição regular). Não ficou por aí: ainda antes do intervalo, recebeu um remate meio atabalhoado de Florentino Luís, deixou Nehuén Pérez fazer um carrinho quase em desespero e bateu Diogo Costa para o 2-0; já no segundo tempo, surgiu no meio dos centrais azuis e brancos para encostar depois de um grande cruzamento de Ángel Di María e apontou o 3-0. Saiu com o jogo ganho.
De acordo com o Playmakerstats, Pavlidis foi o 13.º jogador e o sexto do Benfica a marcar um hat-trick num clássico depois de Espírito Santo, Julinho, Arsénio, Nené e Rui Águas.
Porquê para a história? Logo à cabeça porque o Benfica nunca tinha marcado tão cedo a jogar fora frente ao FC Porto, sendo preciso menos de um minuto para colocar os encarnados na frente. Depois, porque nunca um jogador da formação da Luz tinha conseguido marcar um hat-trick no Estádio do Dragão em mais de 21 anos de existência (o máximo tinham sido os bis de Nuno Gomes, Lima e Carlos Vinícius). Pela quarta época seguida, o internacional grego passou a fasquia dos 22 golos (33 em 2023/24, 25 em 2021/22, 23 em 2024/25 e 22 em 2022/23) e contribuiu com o segundo hat-trick pelo Benfica para uma vitória que pode vir a ser fundamental na luta pelo título com o Sporting, que joga esta segunda-feira com o Sp. Braga.
“Foi um dia especial para mim mas também um dia especial para toda a equipa, que fez um grande jogo. Os três golos que marquei não significam tanto como os três pontos que conseguimos ganhar e agora queremos continuar neste caminho no Campeonato. Se foi melhor do que nos meus sonhos? Penso que sim, hoje penso que sim… Na primeira parte conseguimos marcar rápido, tentámos sempre jogar de uma forma ofensiva que é a nossa estratégia mas o FC Porto também jogou bem. Ainda assim encontrámos os espaços para criar oportunidades, marcámos mais um e tivemos outras chances flagrantes”, frisou à SportTV.
Às vezes temos de ver como está a correr o encontro para depois nos adaptarmos ao que está a acontecer. Marcar no primeiro minuto é sempre diferente e o 3-0 também foi importante porque dificultou tudo para o FC Porto. Luta pelo título contra o Sporting? Não penso sobre isso, penso apenas sobre a minha equipa e queremos ganhar todos os encontros. Estamos apenas focados em nós. Nas últimas duas vezes que o Benfica ganhou no Dragão foi campeão? Espero que seja um bom sinal mas ainda temos mais alguns jogos por fazer”, acrescentou o avançado grego, que falou na zona de entrevistas rápidas no interior do recinto.